“Política de alianças para os interesses do povo e não para a perpetuação do poder dos monopólios”
Sobre
o recente encontro do PC Português com o «Bloco de Esquerda»,
que está a ser utilizado de formas diversas pelas forças
oportunistas do nosso país.
por Giorgos
Marinos, membro da CP do CC do KKE1
(Artigo publicado no
Rizospastis, órgão do CC do KKE, a 17 de abril)
Os
desenvolvimentos no Movimento Comunista Internacional, a estratégia e
tática dos Partidos Comunistas (PC), a política de
alianças que praticam, a sua posição relativamente aos
partidos burgueses, à socialdemocracia e ao oportunismo, às
organizações imperialistas e aos temas básicos da luta de
classes são uma fonte de experiência que estamos obrigados a
examinar, analisar, rejeitar ou utilizar, no sentido de reforçar a
seguinte orientação básica:
Que os
partidos comunistas se fortaleçam, se tornem mais capazes de cumprir as
suas obrigações revolucionárias como vanguarda da classe
operária, o que devem adquirir na prática, através da
confrontação de classe, no esforço de fortalecer a unidade
de classe da classe operária e a aliança social com os setores populares
oprimidos, na luta pelo derrube do capitalismo, pelo poder da classe
operária, pelo socialismo.
A troca
de pontos de vista relativos a questões
políticoideológicas – entre as quais a política de
alianças ocupa um importante lugar – é uma ferramenta
crucial e gostaríamos de partilhar com os PC as nossas
preocupações, surgidas do recente encontro realizado em Lisboa
entre o Partido Comunista Português e o «Bloco de Esquerda»,
assim como a utilização deste encontro pelas forças
oportunistas na Grécia. No encontro entre os dois partidos, de acordo
com a declaração do PCP, houve «uma troca de
opiniões e pontos de vista quanto à avaliação de
cada um dos partidos sobre a situação económica e social
do país (…) Uma
avaliação que permitiu identificar aspectos onde há
apreciações convergentes. Convergências de pontos de vista
que não iludem ao mesmo tempo diferenças de opinião e
até posicionamentos divergentes sobre matérias várias, em
si mesmo um facto natural em partidos com percursos e projectos distintos».
Na mesma declaração referese que «Neste quadro, em que cada
um dos partidos se apresentará às próximas
eleições com as suas propostas e projecto próprio, o PCP
com a firme convicção e
“CP do CC do KKE”:
Comissão Política do Comité Central do Partido Comunista
da Grécia [NT]
confiança da
importância do reforço da CDU para impor a ruptura com a
política de direita e para abrir caminho a uma política
patriótica e de esquerda, prosseguirá e ampliará a sua
intervenção política e social. Facto que não obsta a
que convirjam, como tem acontecido designadamente no plano parlamentar, dando
expressão à defesa dos interesses nacionais, seja pela
rejeição de políticas e medidas gravosas, seja pela
aprovação de outras que promovam o crescimento económico,
a justiça social e a defesa de direitos».
Além disto, a página
web do jornal “Esquerda”, do «Bloco», refere que:
“PCP e Bloco convergem em
saída política de esquerda. Depois de uma reunião de cerca
de uma hora, PCP e Bloco de Esquerda anunciam convergência de
posições contra intervenção do FMI e por uma
política de esquerda contra a bancarrota. Diálogo vai
prosseguir».
Estes são os factos. E,
baseandose neles, o SYN/SYRIZA e os restantes grupos oportunistas da
Grécia procuram explorar esta situação e recuperar a sua
posição sobre a «unidade da esquerda».
Honestamente, podemos dizer que
esta é a natureza do oportunismo.
A política sem
princípios, que tenta transferir mecanicamente para a Grécia um
acontecimento que teve lugar em Portugal para apoiar as suas próprias
opções.
Isto não é, contudo,
suficiente. A questão é mais complexa. Diz respeito à
tentativa de ganhar as forças populares para uma política de
alianças em falência, tendo como base a estratégia
socialdemocrata do SYN e do resto das forças oportunistas, que adotam e
promovem propostas de gestão semelhantes às dos partidos
burgueses, sobre a crise e a saída da mesma, a dívida e o
défice.
Esta é a razão porque
é positivo discutir este tema.
O KKE estabeleceu
relações duradoiras e de camaradagem com o PCP, aprecia a sua
importante contribuição para o desenvolvimento da luta de classes
em Portugal, na defesa dos interesses da classe operária e popular.
Aprecia o seu apoio às organizações antiimperialistas, a
sua contribuição para fazer frente ao anticomunismo e às
grandes dificuldades criadas pela contrarevolução e o derrube do
socialismo.
O nosso partido, como parte do
movimento comunista internacional, estuda cuidadosamente as
posições e decisões dos PC e toma posição
sobre as questões centrais, consoante as várias
opções ajudem ou não a luta de classes, fortaleçam
ou debilitem a luta geral contra o imperialismo e os monopólios e ajudem
ou não as forças populares a libertaremse das ideologias e
políticas burguesas e oportunistas.
Ao mesmo tempo, o KKE informa
regularmente os PC sobre a sua própria ação e
experiências.
É a partir desta
posição que examinamos o encontro entre o PCP e o
«Bloco» e entendemos necessário expressar resumidamente a
experiência que o nosso partido adquiriu relativamente à
posição do oportunismo na Grécia, que historicamente
empregou táticas destruidoras e liquidacionistas, através de
formas de cooperação tais como a «Esquerda
Democrática Unida» (EDA), nos anos 50 e 60, a «Esquerda
Unida», em 1974, e o «Synaspismos» («Aliança»
em grego), em finais dos anos 80.
A matriz da sua postura
é a da sua assimilação nas políticas e ideologias
burguesas, a negação dos princípios que caracterizam o
partido leninista de novo tipo, a abolição da independência
do PC e a sua dissolução.
Esta experiência é
muito útil para estudar o papel que o «Bloco de Esquerda»
desempenha em Portugal.
Tratase de um partido oportunista,
que se forneceu de quadros que abandonaram o PCP no passado. Tratase de um
partido com uma estratégia socialdemocrata, com teses que apoiam o poder
dos monopólios, a propriedade capitalista dos meios de
produção, a União Europeia, um partido que apoiou durante
muito tempo as políticas antipopulares do governo do socialista Sócrates.
Este partido é ativo no seio
desse conhecido construtor da UE, o Partido da Esquerda Europeia (PEE), ocupa o
cargo de vicepresidente na sua direção, junto com o SYN,
participa na campanha anticomunista, com a intenção de
socialdemocratizar os PC, apoia as decisões antipopulares para fazer
retroceder os direitos da classe operária e popular e apoiou
recentemente, com o seu voto, a decisão do Parlamento Europeu para a
participação da UE na guerra imperialista contra a Líbia.
É óbvio que o seu
caráter não se altera pelo facto de ter havido um debate com o
PCP e de, possivelmente, se ter criado uma base de cooperação
entre eles. O seu caráter socialdemocrata não se alterou, as suas
atividades prejudicam o movimento operário e popular. E,
independentemente das intenções do PCP, o «Bloco»
utilizará essa cooperação para fomentar a confusão,
para corromper consciências, para rebaixar os partidos comunistas ou as
forças antiimperialistas.
O SYN saudou o encontro do PCP com
o «Bloco» desde o primeiro momento. O SYN procura aproveitar de
forma oportunista os acontecimentos que ocorrem a nível europeu ou
internacional para promover as suas posições e pôr em
andamento os seus conhecidos jogos de engano.
Fez o mesmo com Jospin, em
França. Saudou a cooperação do Partido Socialista com
o Partido Comunista Francês e
outras formações oportunistas. Falou de um «raio de
esperança» e, mais tarde, quando esta solução
provocou intensos protestos populares e chegou à bancarrota
política, o SYN tentou fazer marchaatrás utilizando um
montão de desculpas.
Fez o mesmo em Itália,
quando saudou o “centroesquerda”, a «coligação
oliveira», falando de um «ramo de esperança» na
Europa. E quando o povo trabalhador condenou as políticas antipopulares
da «oliveira», tratou de justificar o injustificável.
É claro que a lógica
da «unidade de esquerda», a lógica das denominadas
«frentes antineoliberais» recebeu um golpe, mas o oportunismo
insiste porque a sua missão é manipular as forças
populares, impedir a radicalização da consciência do povo:
uma radicalização que ocorre de acordo com a
utilização do conhecimento e experiência da luta de
classes.
O KKE, que avalia os acontecimentos
segundo um critério de classe a partir do ponto de vista dos interesses
operários e populares e alerta para as armadilhas que as forças
da submissão colocam ao povo, diz claramente à classe
operária, aos sectores populares e à juventude que:
Não confiem de nenhuma
maneira no SYN/SYRIZA e nas outras forças do oportunismo.
A sua estratégia serve a perpetuação do capitalismo,
do sistema explorador, independentemente das suas manobras verbais para
confundir. A principal orientação que caracteriza a sua
política é a manutenção do poder dos
monopólios, da propriedade capitalista dos meios de produção
e do desenvolvimento na base dos lucros.
Um elemento importante desta
estratégia é o sistemático anticomunismo que proporciona
um álibi ao anticomunismo burguês. Este elemento marcou a sua
ação desde 1990 até hoje.
As posições e
práticas do SYN, que apoiam a UE e a estratégia de
reestruturação capitalista, que ataca e acaba com os direitos
operários e populares, expressam a sua orientação
estratégica. Esta orientação é evidente no
esforço para fomentar ilusões sobre o papel do governo do PASOK: troçam
do povo, ao argumentarem que o que esteve mal foi o facto de o PASOK ter
abandonado o seu programa, ainda que seja sobejamente conhecido que este
programa implicava um ataque antipopular em todos os campos.
Esta orientação leva
a uma posição hostil para com o PAME e outras
organizações militantes, ao apoio aos empresários e ao
sindicalismo dirigido pelo governo, à maioria de GSEE e ADEDY, que
sempre procuraram, por todos os meios, a corrosão e
o desarmamento do movimento
operário, tendo em vista a sua assimilação nos objetivos
do capital.
As manobras oportunistas não
terão êxito. Os «pecados» políticos do SYN
não se branqueiam com o esforço de utilização do
debate entre o PCP e o Bloco de Esquerda.
Hoje, quando a crise capitalista
mostra claramente que o sistema explorador excedeu os seus limites
históricos; hoje, quando a efetividade da luta de classes está
obviamente ligada à solução do problema do poder, o
SYN/SYRIZA e as restantes formações estão a enganar o
povo com causas que dizem respeito à renegociação da
dívida, o que significa novos impostos, duras condições e
novos memorandos do governoUEFMI com imposições para o povo.
Estão a enganar o povo com a
utopia de uma justa redistribuição da riqueza sob as
condições do poder dos monopólios e de outras causas
semelhantes que também são amplamente utilizadas pelos partidos
burgueses, pelos economistas burgueses e pelos apologistas do sistema.
As constantes mudanças de
posições e exigências com o objetivo de confundir
demonstram a inconsistência e a falsidade dos partidos e grupos
oportunistas.
O nosso povo deve ser severo e
entender que a política de alianças do SYN e os seus apelos
oportunistas à «unidade de esquerda» visam enfraquecer a
unidade do povo numa base antiimperialista e antimonopolista e numa
orientação anticapitalista.
O seu objetivo é encontrar
cúmplices para a perpetuação do poder dos
monopólios. Ao mesmo tempo, eles revelam a miséria que
caracteriza a empresa do SYRIZA, as controvérsias e os becos sem
saída da Babel oportunista.
O KKE trata a política de
alianças com um grande sentido de responsabilidade, como uma ferramenta
de importância estratégica que fortalece a luta do movimento
operário e popular e a concentração de forças
contra a plutocracia, contra as políticas antipopulares e as uniões
imperialistas.
O nosso partido excluiu a
cooperação com os partidos e grupos do oportunismo que,
conscientemente, procuravam dissolver o KKE e celebravam o derrube do
socialismo, fomentando a submissão e contaminando a consciência
popular.
Está excluída a
união ocasional de dirigentes e insistimos na aliança de
forças sociopolíticas cujo objectivo seja o de lutar contra a
estratégia dos monopólios e do imperialismo, tendo em conta que a
aliança não constitui um assunto exclusivo do KKE, mas diz
respeito a uma ampla gama de forças que se mantêm presas a
construções ideológicas burguesas ou hesitam em dar o
grande passo.
O KKE insiste na
acção conjunta e coordenada da classe operária, dos
pequenos e médios camponeses e dos independentes e na relevância
destas forças sociais de associações militantes com
orientações de classe, que desempenham um papel dirigente na luta
do nosso povo, em relação a todos os seus problemas.
Estas associações
constituem o núcleo central do esforço para construir a frente de
luta antimonopolista e antiimperialista, que se bate pelo poder e pela economia
populares, concretamente, pelo socialismo, que é uma
condição prévia para a abolição da
exploração, para a garantia do direito ao trabalho para todos e
para a satisfação das necessidades actuais do povo.
Esta
é a resposta que os próprios acontecimentos trouxeram para a
ordem do dia. Porque a luta respeitante aos graves problemas das
famílias operárias, contra as consequências da crise,
contra o memorando do governo UEFMI e as cruéis medidas antipopulares e
pelos direitos soberanos adquire força até se converter numa luta
contra o poder dos monopólios e pelo derrube da barbárie
capitalista.
Translation provided by pelosocialismo.net
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