Encontro Comunista Europeu 2011: Discurso introdutório da Secretáriageral do CC do KKE, Aleka Papariga
Queridos camaradas,
A deflagração
da crise económica capitalista encontrou o KKE ideológica e
politicamente preparado porque trabalhámos a tempo, baseados em
investigação científica, nas nossas
elaborações e previsões acerca do curso do desenvolvimento
do capitalismo na Grécia, sob as condições do
domínio pela UE. Ao mesmo tempo, tomámos muito em conta as
contradições dentro da União Europeia e as
contradições internacionais interimperialistas no quadro do
desenvolvimento desigual; a entrada dinâmica no mercado global e a
concorrência interimperialista dos novos poderes capitalistas como a
China, a Índia e o Brasil; o papel da Rússia no conflito, etc. Acompanhámos
de bastante perto o papel que a Turquia, a nível regional, está a
tentar desempenhar, particularmente através da sua
participação no famoso G20.
Assim
que apareceram no horizonte os primeiros sinais da crise, fizemos uma
análise muito concreta da situação e colocámos a
questão do reagrupamento do movimento operário como
questão ainda mais urgente. Através das discussões
coletivas no Partido, que culminaram numa conferência nacional,
elaborámos um quadro de ação comum do movimento
operário e da sua aliança com os estratos mais pobres da
pequenaburguesia, os trabalhadores por conta própria, os
artesãos, os pequenos comerciantes e agricultores pobres. Neste
contexto, elaborámos melhor os problemas da juventude e das mulheres,
dos jovens casais e o papel dos movimentos dos estudantes e das mulheres.
Tomámos
medidas adicionais para construir partido e realizar trabalho de massas nas
fábricas e na indústria em geral, porque é aqui que
serão julgados o desenvolvimento da luta de classes e a perspetiva das
alianças sociais. Neste quadro, procedemos a uma
reestruturação interna na organização dos membros
do Partido e à unificação das organizações
partidárias que têm um campo de ação unificado. Não
é por acaso que todos os partidos na Grécia, sejam eles
burgueses, pequenoburgueses ou oportunistas, independentemente de como votaram
o pacote de medidas antipopulares, focalizam as suas propostas no modo como
pode ser reduzido o défice, onde deve o capital concentrarse para
investir, e como pode ser aumentada a massa dos lucros para ser mais bem
distribuída e dividida pelos acionistas.
As
suas propostas constituem um círculo vicioso. Elas apoiam, com algumas
diferenças secundárias, todos aqueles factores que levam
inevitavelmente à eclosão de crises depois de um período
de alta taxa de crescimento do PIB e das taxas de rentabilidade.
Uma
coisa é lutar pelo alívio temporário dos trabalhadores,
outra bem diferente é transformar isto em teoria e considerar que a
solução alternativa é a chamada mais justa
distribuição da riqueza, não tendo em conta as
relações da economia com a política no sistema
capitalista.
Existe
hoje uma oportunidade histórica no terreno da incessante luta de
classes: dirigir o pensamento e a ação dos povos em luta – sob
a direção da classe operária – para o poder da
classe trabalhadora. Devese entender que, se mesmo num determinado país,
for eleita pelo povo uma maioria a favor dos trabalhadores para o parlamento e
se nessa base se formar um governo, este não será capaz de
ultrapassar os limites das leis básicas do capitalismo se não
resolver as questões da socialização dos principais meios
de produção, da desvinculação da UE e da NATO, da
planificação da economia em todo o país e do
estabelecimento do controlo operário de cima a baixo.
Desde
o primeiro momento, e hoje mais que nunca, é óbvio que a
súbita agudização de todos os problemas económicos
e sociais, o crescente desemprego e pobreza não são suficientes,
por si só, para o desenvolvimento da luta de classes, se a sua
ação não for combinada com a luta
políticoideológica conduzida pelo Partido, pelo movimento
operário de classe e pelas organizações
revolucionárias em geral.
As
diversas tentativas de explicar as causas desta crise, que eles deliberadamente
apresentam como uma crise de dívida e de défice, pela má
gestão, pela existência de um setor do Estado demasiado grande e
por um excesso de partidarismo têm de ser combatidas.
É
claro que não nos limitamos a um contraataque propagandístico. Impulsionámos
a formação de uma aliança social a nível nacional
(preparámos o terreno em cooperação com forças
revolucionárias mais vastas) com um quadro comum de objetivos de luta. É
um acontecimento que se dá pela primeira vez na Grécia
Especializámos
a organização da luta popular com caráter de classe, dando
maior importância à base e fazendo um esforço planificado
no sentido de lhe dar uma natureza regional e nacional.
Ao
mesmo tempo, levámos ao Parlamento e ao movimento alguns objetivos
imediatos de luta relativos ao desemprego e à proteção dos
desempregados, aos trabalhadores com vínculos precários, aos
agricultores e pequenos empresários pobres, às pensões e
ao sistema da Segurança Social, Saúde e Educação;
aos problemas de habitação dos trabalhadores, aos sérios
atrasos na proteção antissísmica, às dívidas
das pessoas à banca, etc.
Os
comités populares devem se formados de forma muito bem preparada,
através de amplos processos de massas, para que não sejam uma
mera “etiqueta”. Devem ser dirigidos às mais vastas massas
populares em volta de um problema específico ou de um conjunto de
problemas. Cada parte constituinte desta aliança continua a sua
atividade no seu campo ou setor, locais de trabalho, zonas industriais,
bairros, universidades e escolas. Não se trata de um agrupamento
temporário, mas de uma força que conduza os trabalhadores e
outros estratos populares pobres à luta organizada numa
direção antimonopolista e antiimperialista, contra o poder dos
monopólios.
A força
desta aliança julgase nas fábricas, nos locais de trabalho, onde
a contradição entre o trabalho e o capital se expressa clara e
diretamente. Tem havido já alguns resultados positivos na
readmissão de trabalhadores despedidos, no pagamento de salários
e indemnizações e na ligação da eletricidade a
famílias que não pagaram as faturas devido à sua pobreza. Têmse
dado e continuam a darse importantes mobilizações pela
abolição das portagens nas autoestradas, o pagamento de taxas
moderadoras nos hospitais do Estado, contra o aumento dos preços dos
exames médicos, contra o encerramento de escolas e a
abolição de camas nos hospitais.
Depois
de estudar as decisões da cimeira do Partido de Esquerda Europeia, que
se realizou em Atenas, podemos ver claramente que, por detrás da sua
fraseologia radical, revela claramente a sua intenção de gerir a
crise, deixando intocável a linha política burguesa. As suas
propostas dissociam a política da economia, dividem os capitalistas em
credores e devedores, separam as causas da crise das suas consequências. As
ditas propostas radicais para a socialização de grupos
bancários e do setor financeiro operam no quadro do sistema capitalista,
como acontece também na proposta para a mudança da natureza do
crédito. Se esta utopia não resulta da ignorância acerca do
papel do crédito no sistema capitalista, então só serve
para iludir as pessoas. Infelizmente, é a última que é
verdadeira.
Ao
transformar a dívida de consequência em causa, eles estão a
criar uma atmosfera entre o povo de que deve aceitar alguns sacrifícios,
porque a dívida é um problema nacional e acima de tudo
está a economia nacional.
PROPOSTAS
PARA AÇÃO E DIREÇÃO COMUM
1.
Intervenção coordenada no campo políticoideológico
para que se torne claro o campo de luta
A.
Consideramos que os partidos comunistas da Europa, intervindo ou
não
O
desenvolvimento de um real contraataque ideológico na luta em torno dos
problemas mais agudos é absolutamente necessário para a
compreensão, tão vasta quanto possível, especialmente
entre a classe operária, da questão da relação
entre a economia e a política.
As
nossas posições sobre a economia capitalista, as suas leis
fundamentais, o desenvolvimento das contradições internas do
sistema, a lei da baixa tendencial da taxa de lucro, as relações
de produção e distribuição, o papel do
crédito na economia capitalista têm de ser difundidas mais
amplamente.
Será
difícil ao movimento operário e aos seus aliados dar um passo em
frente sem se penetrar na lógica do funcionamento do sistema e se estas
questões não forem compreendidas.
É
uma necessidade vital revelar, na base de argumentos e factos, as
questões relacionadas com a concorrência interimperialista, sobre
o que se passa com os grupos imperialistas multinacionais a nível
regional e global. A consciência das massas não se forma de modo
espontâneo, por muito que se agudizem os problemas, sem a
intensificação da luta política e ideológica.
É
uma oportunidade séria para compreender os limites históricos do
sistema capitalista, tais como: a anarquia da produção, o desenvolvimento
desigual, a massiva redução do capital industrial em
relação ao capital bancário, a extensão e
velocidade das transações de títulos e a
circulação do capital financeiro. A instabilidade
política que objetivamente se verificará deve ser utilizada pelo
movimento ao serviço dos seus próprios interesses. Não
deve ser utilizada para a implementação de cenários de
coligações governamentais que reforçarão o ataque
contra o povo, com vários álibis “de esquerda”,
“renovados” ou “centristas”.
O
facto de a revolução socialista não estar na ordem do dia
não significa que não haja uma necessidade objetiva de o
movimento operário apontar o socialismo como resposta ao caminho
obsoleto do capitalismo para o desenvolvimento.
B.
O modo como um governo burguês gere a crise, independentemente da sua
composição, tem uma dada orientação e natureza. Toma
medidas que levam à intensificação da exploração
de classe enquanto a força de trabalho se torna cada vez mais barata. A crise
significa a depreciaçãodestruição de um setor do
capital, seja ele financeiro ou capital real. Contudo, o estado
burguês, o poder do capital toma medidas para que esta
depreciação seja a menor possível em termos da
redução da massa dos lucros ou para a sua
recuperação o mais breve possível.
C. A gestão burguesa
será acompanhada por instabilidade política, conflitos militares locais e
intervenções que refletem o conflito entre as potências do
sistema imperialista internacional.
A guerra
contra a Líbia, as intervenções imperialistas no Egito e na
Tunísia, na Síria, no Bharein e no Iémen são a
continuação das intervenções imperialistas e das
guerras na Jugoslávia, Iraque, Afeganistão, Somália e
Sudão e têm um único propósito: controlar ainda mais
decisivamente o petróleo, o gás natural e os recursos minerais;
impedir levantamentos populares e particularmente o despertar da classe
operária, para mudar governos e impor outros que sejam mais amigos de um
ou de outro imperialista.
Por
isso, a luta do movimento operário contra o imperialismo tem de adquirir
características anticapitalistas. Isto é válido para o
movimento que se desenvolve no país agressor, como também para o
país capitalista que é alvo de ataque. A luta contra a
ocupação estrangeira não deve perder as suas
características de classe, pois a classe burguesa, não importa se
ganha ou perde, não abandona o seu objetivo principal que é
atacar e derrotar o movimento popular em geral.
2.
Estratégia comum em relação à UE
Independentemente da forma que
a UE vier a tomar, haverá sempre um campo com uma política
decidida sem contradições ou discordâncias: a
estratégia de barbárie contra a classe operária e o povo
trabalhador
A linha
política de rotura e desvinculação da UE é um
requisito prévio para o desenvolvimento da luta que beneficiará o
povo, para a perspetiva do socialismo, para uma Europa socialista unida. Esta
possibilidade não será realizada automática e
simultaneamente
Os
povos devem lutar, por seu lado, contra os estados burgueses, os
monopólios a nível nacional e também a nível
europeu e internacional. Eles não podem “corrigir” as
decisões da UE; só podem pôr um travão
temporariamente através de uma agressiva linha política de
rotura. Finalmente, a saída de cada país da UE através do
derrubamento do poder burguês aplana o caminho para a Europa do
socialismo, da cooperação equitativa no interesse dos povos.
================
Translation provided by pelosocialismo.net
e-mail:cpg@int.kke.gr