Artigo do Conselho Editorial do Rizospastis, publicado em 5 de junho, sobre as mobilizações dos “indignados”, na Grécia
Fora com
os partidos e sindicatos ou com o KKE e o movimento de classe?
Na passada
sextafeira, os blogs que estão a guiar o movimento dos cidadãos
“indignados” publicou uma declaração dos
cidadãos “indignados” na Praça Sintagma, que apelava
às forças de esquerda para abandonarem as praças. Assim,
os dirigentes “anónimos” do “movimento das
praças”, os “alinhados sem partido”,
“espontâneos”, cidadãos “não
politizados” aparentam estar politizados e declaramse a si mesmos
“antiesquerda”.
Talvez
esta seja a razão porque eles se escondem no anonimato. Até este
momento, declaravam que o seu inimigo era a política que trazia pobreza
e desemprego, enquanto o seu slogan era o de livrarse do memorando e dos
políticos que o implementam. Este elemento, juntamente com o facto de
organizarem mobilizações, expressa uma posição
política.
Agora,
estão a mostrar mais um aspeto das suas posição e
prática políticas, atribuindo a política bárbara
que leva o povo e a juventude à indigência a todos os partidos em
geral – incluindo o KKE. Claro que não demonstram quem beneficia
com esta política; também não mostram os verdadeiros
inimigos, que são os monopólios, os capitalistas.
Estão
contra o organizado movimento sindical de classe, alegando que os sindicatos
devem abandonar as praças. Mas o movimento sindical não é
homogéneo. Há alguma relação entre o governo e o
sindicalismo amarelo, que ajudou à adoção das
bárbaras medidas, e a PAME2, que organizou greves e
concentrações de massas contra tais medidas, em conjunto com o
PASEVE3, o PASY4, a OGE5 e o MAS6?
A
autodefinição de “alinhados sem partido” que usaram
até agora – exaltada pelos grupos mediáticos dos capitalistas,
assim como a sua lógica no que respeita à questão da
democracia – prova não ser mais do que hipocrisia. Assim como a
sua alegada intenção de unir o povo, mesmo na base do vago
conteúdo antimemorando do “movimento das praças”,
já que posições como “esquerda fora”,
“partidos fora”, “sindicatos fora” são
divisionistas, pois não são nada democráticas, ou, para
sermos mais exatos, são antidemocráticas.
Ao
mesmo tempo e enquanto se opõem ao memorando e às
horríveis medidas, não dizem uma única palavra contra o
governo, a UE e as forças políticas que concordam com esta
política. Falam apenas, em geral, sobre os políticos que a
aplicam, com argumentos vagos, enquanto igualam o KKE com aquelas
forças.
O
impedimento da expressão política e ideológica do povo trabalhador,
que tem o direito de ter o seu próprio ponto de vista e de o expressar
aberta e publicamente em geral e, em particular, no seio do movimento, onde
desabrocha a luta política e ideológica, não só
é contrária à democracia, especialmente dentro do
movimento, mas também a amordaça.
Além
disso, todo o movimento – mesmo o espontâneo, mas, ainda mais, o
movimento nas praças – tem um objetivo, independentemente de se
estar ou não de acordo com ele. Esta ação revela que os
dirigentes dos movimentos das praças têm um ponto de vista: ou
vens para a praça com as nossas posições
políticoideológicas, deixando as tuas fora do movimento, ou
não venhas mesmo, afastate das praças.
Parece
que é uma tática bem elaborada para cavar linhas
divisórias entre as forças populares que estão organizadas
em sindicatos, os partidos, que não escondem a sua ideologia, a sua
política, mesmo a sua identidade partidária e aqueles que
vão para as praças, que são também pessoas normais,
a maioria das quais acreditou nos partidos burgueses que traíram as suas
esperanças de uma vida melhor, estão descontentes com a
política burguesa e procuram uma saída.
Depois
de tudo isto, a quem serve a lógica de “partidos e sindicatos
fora”? Neste ponto, não vamos repetir que os dos blogs
estão a preparar um partido com o nome “Democracia
já”, como disseram na TV. Mas há também uma verdade
que eles não querem que fique em evidência, que tentam ocultar,
como os meios de comunicação burgueses fazem com frequência
– nomeadamente, que nem todos os partidos são iguais, que o
chamado movimento antipartido das praças é uma entidade
política, que, apesar de se dizer apartidário, é uma
entidade política e tem uma posição política contra
os outros partidos, independentemente do que diga de si próprio.
Desde
a primeira vez que este tipo de mobilizações apareceu, colocamos
a questão: quem se esconde por trás dos blogs e da internet? Porque
não aparece? O que significa o seu anonimato? Não devia este
facto preocupar aqueles que se reúnem nas praças? Pela simples
razão de que deviam conhecer que forças os convidam e organizam
estas atividades. E porque os blogs não são suficientes –
nem tudo começa espontaneamente num blog – mesmo se eles
contribuem para as mobilizações, tal como as enormes
promoções dos meios de comunicação.
Mas
parece que o anonimato auxilia aqueles que estão por trás dos
blogs e não só a eles. Afinal, a experiência do movimento
popular mostra que há também forças organizadas que
aparecem como forças do “movimento” e se opõem
– não importa se intencionalmente ou não – ao
movimento popular organizado e que, quando em ação, ocultam a
cara com capuzes.
Agora
emergiu o movimento daqueles que não têm nome. As pessoas que se
escondem a si próprias têm um objetivo específico, que
também tentam ocultar. Autoapresentamse como dirigentes a favor do povo
mas não apontam o verdadeiro inimigo do povo.
Os que
cobrem a cara com capuzes opõemse aos mecanismos repressivos do estado,
às montras das lojas e dos bancos – consideramnos como os seus
inimigos e não os monopólios. A sua atividade fomenta
tendências para o movimento perder o seu caráter organizado,
impede a participação do povo e não cultiva uma
consciência reivindicativa.
Os
procedimentos da democracia direta expressam, alegadamente, a
participação, de baixo, na atividade antimemorando. Mas que
força política imporá a sua vontade para que o memorando
seja abandonado? Se eles estão contra os políticos e os partidos
políticos. Assim, quem o fará? Outros políticos e, talvez,
outras forças organizadas com a linha política que tem vindo a
ser expressa nas praças, que não estão contra os
monopólios e os capitalistas. Então, estamos a falar de outro
sistema burguês, reformado. Será este o seu objetivo?
Claro
que o específico ponto de vista de “partidos fora” faz com
que algumas pessoas de determinados partidos apareçam como defensoras da
linha do seu partido de manhã, lisonjeiem aqueles que expressam uma
“posição apartidária”, apesar de muitas destas
pessoas serem quadros dirigentes de partidos e, à noite, vão para
as praças como “gente apartidária”. Isto é
hipocrisia em escala massiva, se não uma fraude direta. O comum das
pessoas e os jovens participam nas praças para expressarem a sua
indignação, descontentamento e raiva contra o governo, a UE e a
Troika. Mas não compreendem ou não aceitam a linha
política de derrube do sistema. Este povo trabalhador não deve
ser enredado na rede que o sistema está a preparar, através dos
chamados “apartidários” e espontâneos. O conflito com
os monopólios não é asséptico. Necessita de um
plano, de uma estratégia, de ideais, contribuições e
sacrifícios. Isto significa uma aliança com o KKE e as
forças radicais de classe; as novas forças que começam a
mobilizarse, superando a sua inércia e tolerância, devem dar este
passo em frente.
“Partidos
fora” é uma posição conservadora. Os partidos
políticos são organizações que, com a sua linha
política e ideológica, expressam interesses específicos. A
nossa sociedade está dividida em classes e estratos sociais. Por um
lado, a classe burguesa, a classe dominante, com o poder, cuja gestão
é feita por alguns dos seus partidos no governo e, por outro lado, a
classe operária. Há estratos intermédios que se
diferenciam economicamente, assim como socialmente. As camadas
intermédias, que estão numa posição
económica mais fraca, são, objetivamente, aliadas dos
trabalhadores e inimigas dos monopólios. A posição
“partidos fora” iguala o KKE com os partidos burgueses e esconde o
verdadeiro inimigo do povo: os monopólios, que detêm o poder.
Um
trabalhador iludese a si próprio se acredita que as
mobilizações nas praças são suficientes para o
libertar dos velhos e novos problemas que lhe impuseram, sem um movimento que
comece e esteja enraizado nas fábricas e indústrias, em todos os
locais de trabalho, contra a classe capitalista. Quando o movimento não
é forte nas fábricas, quaisquer mobilizações que se
façam não têm bases sólidas. O verdadeiro palco da
luta de classes é o local de trabalho, a empresa. É aí que
os trabalhadores entram numa luta diária e sem quartel contra os grandes
empresários – luta que surge das suas particulares
relações de classe, as relações de
exploração, porque a riqueza e os lucros dos capitalistas
são produzidos pelo trabalho dos operários. Alguns dizem que
também se luta nas praças, e isso é de igual modo
necessário; mas, em primeiro lugar, lutase no local onde os inimigos de
classe entram em conflito. Aí está o verdadeiro
coração da luta política de classe.
Um
trabalhador iludese a si próprio se acredita que as
mobilizações populares devem afastarse de todos os partidos ou
estar contra todos eles. Tal movimento está condenado a ser subjugado
à linha política dos capitalistas, a contribuir para a
perpetuação da exploração.
Um
trabalhador iludese a si próprio se acredita que o sistema
político burguês pode funcionar no interesse do povo. O sistema
político burguês não pode ser corrigido, tem de ser
derrubado.
Um
trabalhador enganase a si próprio se promove a
reivindicação de nos livrarmos do memorando, sem a acompanhar da
reivindicação da saída da UE e do derrube do estado dos
monopólios na Grécia.
O povo
necessita do movimento que lhe dá uma perspetiva clara. Isto significa
uma luta organizada, aliada ao KKE, uma luta através dos movimentos de
classe do PAME, PASY, PASEVE, OGE e MAS. Só estas forças se podem
opor à estratégia dos monopólios e seus servidores, com a
estratégia a favor dos interesses populares. Sem tal estratégia o
povo não encontrará uma saída.
Conselho editorial do Rizospastis
(Original
publicado no Rizospastis, em 5 de junho de 2011)
1 Jornal do Partido Comunista da Grécia (KKE) [NT] 2
PAME: Frente Militante de Todos os Trabalhadores – central sindical
de classe da Grécia [NT] 3 PASEVE: Movimento Antimonopolista
de Trabalhadores Autónomos e Pequenos Comerciantes [NT] 4 PASY:
Movimento Militante de Todos os Camponeses [NT] 5 OGE:
Federação das Mulheres Gregas [NT] 6 MAS: Frente
Militante de Todos os Estudantes [NT]
Translation
provided by pelosocialismo.net
e-mail:cpg@int.kke.gr