O movimento comunista internacional atual e a posição do KKE
Cap. I – A
SITUAÇÃO NO MOVIMENTO COMUNISTA INTERNACIONAL
1. O movimento comunista internacional atual e a
posição do KKE
por Giorgos Marinos
Membro da Comissão
Política do CC do KKE
Introdução
O KKE faz
esforços no sentido de contribuir para o desenvolvimento do movimento
comunista internacional. Estes esforços constituem um dever permanente e
firme, que tem marcado o seu percurso histórico. Tudo isto tem uma base
objetiva e emana do verdadeiro caráter internacionalista do nosso
Partido, assim como de cada partido comunista, que, como vanguarda da classe
operária, constitui uma parte do movimento comunista internacional e
é avaliado pela ação combinada a nível nacional e
internacional, pela sua contribuição na tarefa comum dos
comunistas, com confiança e dedicação ao princípio
marxista “proletários de todos os países, univos”.
O
capital é uma força internacional; por isso, a luta de classes
desenvolvese a nível internacional. Isso requer o desenvolvimento da classe
operária num poder internacional. O que pressupõe uma
estratégia revolucionária unificada, a ação
conjunta dos partidos comunistas, a elaboração conjunta de
políticas para a aliança com estratos populares pobres, numa direção
antiimperialista e antimonopolista.
A luta
internacional dos partidos comunistas percorreu um longo caminho desde a
fundação da Primeira Internacional, da bancarrota oportunista da
Segunda Internacional, da histórica fundação da Terceira
(Comunista) Internacional e de outras formas de coordenação que
se seguiram. Nós analisamos criticamente toda essa valiosa e
cristalizada experiência, no sentido de continuarmos os nossos
esforços nas novas condições criadas depois da
contrarrevolução e da profunda crise do movimento comunista.
Este
longo percurso histórico caraterizase pelo permanente conflito, em
questões teóricas e estratégicas, entre a corrente
revolucionária e o oportunismo, pela influência da ideologia e
política burguesas no movimento operário, que afetou a unidade e
a eficácia da ação do movimento comunista em todo o seu
percurso. O KKE estuda a trajetória histórica do movimento
comunista e retira daí valiosas experiências. O XVIII Congresso
realça, entre outras:
“Os
acontecimentos no movimento comunista internacional e as questões de
estratégia desempenham um importante papel na luta de classes a
nível mundial e na configuração da
correlação de forças. Problemas de unidade
ideológica e estratégica expressaramse durante todo
o
percurso da Internacional Comunista (IC), sobre o caráter da
revolução, a natureza da guerra que se aproximava na
sequência da ascensão do fascismo na Alemanha e a atitude dos
comunistas perante a socialdemocracia”2.
Nas
nossas teses focamos o enfraquecimento no funcionamento da IC, como centro de
unidade, muitos anos antes da sua autodissolução (1943). Pensamos
que a dissolução da IC – apesar dos problemas de unidade
existentes e independentemente do tempo que poderia ou não manterse
– privou o movimento comunista internacional do seu centro e da capacidade
de elaborar, de forma coordenada, uma estratégia revolucionária
para a transformação da luta contra a guerra imperialista ou a
ocupação estrangeira em luta pelo poder do Estado, nas
condições da Segunda Guerra Mundial.
Como
é referido na resolução do XVIII Congresso do KKE “a
estratégia do movimento comunista não aproveitou o facto de a
contradição entre o capital e o trabalho ser uma componente
integrante do caráter de libertação nacional antifascista
da luta armada, numa série de países, para levantar a
questão do poder de Estado, já que o socialismo e a perspetiva do
comunismo são a única solução alternativa à
barbárie capitalista”3.
O
movimento comunista não conseguiu avaliar corretamente a
correlação de forças saída da Segunda Guerra
Mundial, para ver a repetição de equívocos na
política de alianças. Não conseguiu elaborar uma
estratégia unificada e independente contra a estratégia do
imperialismo internacional.
Na
resolução do XX Congresso do PCUS (Fevereiro de 1956)
predominaram opiniões revisionistas socialdemocratas sobre a
possibilidade da “coexistência pacífica” entre o
capitalismo e o socialismo e a possibilidade de uma transição
pacífica e parlamentar para o socialismo.
Além
disso, a estratégia do “governo antimonopolista”, como uma
espécie de estádio entre o socialismo e o capitalismo, que
resolveria problemas de “dependência” dos EUA, foi adotada na
base de uma análise errada da posição e do poder de cada
estado capitalista no sistema imperialista, que olhava, mesmo países
como a GrãBretanha e a França, como subordinados aos EUA. Foi por
isto que Partidos Comunistas escolheram uma política de alianças
que incluiu forças burguesas, definidas como “de
orientação nacional” nacional, em
contraposição àquelas que se consideravam servis ao imperialismo
estrangeiro.
Nas
fileiras de muitos Partidos Comunistas da Europa Ocidental, sob o pretexto das
especificidades nacionais de cada país, ganhou predominância a
corrente oportunista conhecida como “Eurocomunismo”, corrente que
negava as leis científicas da revolução socialista, a
ditadura do proletariado e a luta revolucionária em geral, o que
conduziu à degeneração desses partidos.
Assim,
a contrarrevolução encontrou o movimento comunista nos
países capitalistas vulnerável à ofensiva
ideológica do inimigo, intensificando os seus problemas e iniciando um
novo período de profunda crise.
O caráter da crise e as
condições para a sua superação
Os
acontecimentos dos últimos vinte anos apresentam novos elementos
qualitativos. A contrarrevolução na União Soviética
e noutros países socialistas levou à dissolução e
ao desarmamento de muitos partidos comunistas. A mutação
socialdemocrata de partidos comunistas conduziu à sua
diluição em novas formações oportunistas. A
retração geral levou à negação da teoria
revolucionária – isto é, do marxismoleninismo –
à negação dos princípios de
organização e funcionamento do partido de novo tipo, ao
enfraquecimento da luta pelo socialismocomunismo.
Claro
que hoje a situação é diferente da de 1991. Houve
progressos na reconstrução de muitos partidos comunistas, na
coordenação internacional e na conjugação da luta. Porém,
não podemos examinar este progresso numa perspetiva estática.
Temos de o avaliar com base no contínuo crescimento das necessidades da
luta revolucionária, que nos coloca novas e exigentes tarefas.
A
crise continua. Por isso, a avaliação do XVIII Congresso do KKE,
ao realçar que “o movimento comunista continua organizativamente e
ideologicamente fragmentado”, é de grande significado. “Enquanto
a situação não melhora, enquanto continua parada, aumenta
o perigo de uma nova regressão”4.
Os
acontecimentos progridem, a agressividade dos monopólios e do
imperialismo intensificase, as forças oportunistas intervêm
metodicamente exercendo influência nos Partidos Comunistas. Enquanto se
prolonga a sua reconstrução numa direção
revolucionária, o movimento comunista perde tempo precioso e
oportunidades. Não pode intervir de forma unificada a nível
nacional, regional e internacional, não pode esclarecer a classe trabalhadora,
os estratos populares, a juventude, não pode organizar efetivamente a
luta antimonopolista e antiimperialista, para pôr em causa o sistema de
exploração, preparando e concentrando forças para a sua
derrota, e para a revolução socialista.
O KKE
acumulou significativos ensinamentos. O nosso partido conseguiu
autoreconstruirse devido à sua resoluta dedicação à
luta de classes e ao objetivo da derrota do capitalismo, ou seja, à
perspetiva socialista. Elaborou uma estratégia atualizada e uma linha de
luta antiimperialista, antimonopolista e de concentração de
forças. Hoje, sob difíceis condições, continua o
seu desenvolvimento precisamente nesta linha; e aumenta o seu prestígio
e a sua influência, o que é uma espinha na garganta da
plutocracia, dos imperialistas e dos apologistas do capitalismo.
Temos
muitas debilidades, mas é claro para nós qual deve ser a
principal obrigação de um partido comunista que assume as suas
responsabilidades, honra o seu nome e a sua história e retira
ensinamentos da sua experiência e dos seus erros.
Não
subestimamos as dificuldades acumuladas a nível internacional. A
situação é complexa e complicada, enquanto o ataque do
inimigo é forte e bem organizado.
É
sob estas condições que se testam as qualidades de comando, os
órgãos de direção e os comunistas em geral,
conscientes do facto de que não há situações
imutáveis, que se podem dar mais e substanciais progressos, que se podem
ultrapassar obstáculos e ganhar terreno – sobretudo a nível
nacional – e, nesta base, desenvolver a atividade e
contribuição internacionalistas.
Devemos
ganhar terreno na difusão da ideologia e política comunistas, no
desenvolvimento da luta de classes, forjando ligações com a
classe operária e os estratos populares, no fortalecimento das fileiras
dos partidos comunistas.
Este
desenvolvimento requer o conhecimento das causas da crise que afeta o movimento
comunista, para dar passos decisivos na erradicação dessas
causas.
A
crise do movimento comunista internacional tem um conteúdo
ideológico e político. Expressa a longa e profunda
influência das posições oportunistas e socialdemocratas nos
partidos comunistas. Expressa problemas na assimilação da nossa
estratégia, na análise marxistaleninista dos temas
contemporâneos, na elaboração de uma estratégia atual
que sirva a perspetiva socialista, na base dos nossos princípios
ideológicos e da experiência histórica da luta de classes.
Como
foi apontado na Resolução do XVII Congresso do KKE, sobre a
situação no movimento comunista internacional, a luta entre as
posições revolucionárias e as reformistas e oportunistas
continua no seio do movimento comunista. Esta luta centralizase em: a atitude
perante o socialismo que nos foi dado conhecer e as causas da sua derrota; a
relevância do marxismoleninismo; a necessidade de desenvolver a teoria
revolucionária, nas atuais condições; o caráter do
Partido Comunista; o caráter do imperialismo; a relação da
luta ao nível nacional e internacional; a política de
alianças; a atitude perante a socialdemocracia; a postura dos comunistas
nos movimentos de massas; a sua postura em relação à crise
capitalista, às contradições interimperialistas e
às guerras imperialistas; a política perante as uniões
regionais e internacionais entre os estados imperialistas; o papel
histórico da classe operária; as leis da revolução
e construção socialistas; o internacionalismo proletário.
O
movimento comunista pode lidar melhor com estes problemas, à medida que
se apercebe destes fatores e os procura resolver.
O KKE
respeita a independência dos partidos comunistas. Como parte do movimento
comunista internacional quer contribuir para esta reflexão e apresentar
as suas posições sobre alguns problemas cruciais do movimento
comunista, que podem transformarse em fatores de aprofundamento da crise se
não se atalharem a tempo.
A existência de partidos comunistas
de novo tipo é necessária
Hoje em dia, nas
condições da contrarrevolução, há
necessidade de criar Partidos Comunistas marxistasleninistas numa série
de países; noutros, os partidos têm de se reconstruir numa base
revolucionária. A existência de partidos comunistas é
necessária em todos os países. A necessidade de uma
organização comunista independente está mais madura do que
antes, pois é a existência de partidos comunistas de novo tipo que
expressa a fusão da teoria revolucionária com o movimento dos
trabalhadores – que se baseia na classe operária, força de
vanguarda da sociedade – e expressa também os seus interesses,
comprometidos com a sua missão histórica.
A luta
dos comunistas deve guiarse pela posição leninista de que o
partido é a forma superior da organização de classe do
proletariado; de que elabora o seu programa revolucionário e uma
tática que corresponda à sua estratégia, baseado nas leis
do desenvolvimento social. Cada partido comunista deve estudar a
experiência internacional e daí retirar lições e
conclusões. O que aconteceu aos partidos que, influenciados pelas
teorias burguesas sobre “o fim da classe operária”,
escolheram outro sujeito do desenvolvimento social em vez da classe
operária, que é a força revolucionária de
vanguarda? O que aconteceu aos partidos comunistas que negaram o centralismo
democrático e os demais princípios de organização
do partido de novo tipo e, finalmente, se transformaram em clubes de
discussões infindas, grupos fragmentados, ou máquinas eleitorais?
Os
substitutos são poeira no vento. Não conseguem suportar as
severas condições da luta de classes. Debilitamse, degeneram,
dissolvemse ou evoluem para partidos sociaisdemocratas, ainda que mantenham o
nome de comunista.
Esta
conclusão não tem a ver somente com a experiência dos
partidos comunistas
Os
partidos comunistas têm as maiores responsabilidades para com a classe
operária e as forças populares e, por isso, não é
admissível a propagação de confusões e
distorções. Tais confusões são difundidas por
forças que presenteiam os partidos que apoiam o capitalismo e recorrem
frequentemente ao anticomunismo, apresentandose como parentes do movimento
comunista, devido ao facto dos seus principais quadros terem sido comunistas
que se transformaram em socialdemocratas. Esta prática mitiga a
aplicação dos critérios corretos, o que tem pesados custos
para o movimento comunista e terá custos ainda maiores no futuro se
não tratarmos da questão, que tende a ser também adotada
por outros partidos.
Com
que critérios se julga positiva para a classe operária e o
movimento popular a postura destes partidos? Em que base estes partidos,
artificiosamente apresentados como “de esquerda” (por exemplo: o
“die Linke” na Alemanha, ou o Bloco de Esquerda, em Portugal),
são tratados como forças aliadas ou aparentadas, por diversos
partidos comunistas?
Há
necessidade de provocar um debate para intensificar a batalha
ideológica. O caráter de cada partido é determinado pela
sua postura de classe perante a burguesia e o imperialismo, pelo reconhecimento
da natureza exploradora do capitalismo e pela luta para a sua derrota. A
postura destes partidos perante as organizações imperialistas, a
estratégia do capital e, consequentemente, a adoção da
luta antiimperialista como linha orientadora das suas alianças
são também critérios de avaliação do seu
caráter.
Os
chamados partidos “de esquerda” apresentam credenciais à
burguesia numa base diária de apoio às organizações
imperialistas (NATO, UE, etc.), contribuindo para a manipulação
ideológica e política da classe operária, das camadas
populares e da juventude. Este elemento carateriza a sua posição
sobre as mais importantes questões.
È
necessário discorrer mais aprofundadamente sobre o esforço destas
forças políticas. A sua intervenção visa impedir desenvolvimentos
positivos na reconstrução do movimento comunista; prejudicar o
movimento através de ataques “amigos”, em nome da unidade
das forças de esquerda; desarmar o movimento operário e popular,
com o pretexto da “colaboração de classes” e do
“consenso social” (negação da luta de classes). A
promoção da corrente de luta antineoliberal pretende amarrar as
massas populares, numa escala massiva, à lógica da
“humanização do capitalismo”, das pessoas à
frente dos lucros – enquanto continua a base exploradora da
reprodução destes – na expetativa de que possam surgir
mudanças profundas a favor do povo sem se entrar em choque com o poder
dos monopólios e as relações de produção
exploradoras.
Os
recentes acontecimentos mostram que a burguesia apoia metodicamente estas
forças, para que absorvam o descontentamento popular causado pelos
governos burgueses – especialmente em situações de crise
– e o canalizem para caminhos que não ponham em perigo o sistema. Ao
mesmo tempo estabelecem as bases para a criação de formações
do centroesquerda, que possam ser alternativamente utilizadas na
administração do sistema.
A
experiência do Partido de Esquerda Europeu é ilustrativa. É
um partido que se fundou no contexto das orientações da UE para a
criação de partidos unificados que possam ser controlados pela
UE. Nega tudo do comunismo, rejeita a tradição
revolucionária, opõese ao socialismo científico, à
luta de classes e à revolução socialista. Através
das suas ações e usando a “unidade da esquerda” como
veículo, tenta infiltrarse nos partidos comunistas e arrastálos
para a lógica da gestão do capitalismo, da
colaboração social. Ao mesmo tempo, contribui para a
difamação do socialismo construído no século XX,
reproduzindo a histeria antistalinista.
Como
resultado da dominação de tais pontos de vista, vários
partidos comunistas participaram e suportaram governos burgueses. A
significativa experiência histórica dos pesados custos que pagaram
pela sua escolha revela que essa postura é utilizada pela burguesia como
um álibi para a implementação de políticas
antipopulares.
As
posições e a ação política do SYN/SYRIZA
são uma parte daquele esforço. O seu papel no amortecimento da
radicalização popular e na assimilação das
forças populares para os objetivos do capital expressase de várias
maneiras (apoio à “via única da UE”, difusão
de confusões sobre o papel do PASOK, tentativa de reagrupar a
socialdemocracia, apoio aos sindicatos amarelos no GSEE e na ADEDY,
assunção de um papel especial na campanha anticomunista, etc.).
Os
partidos comunistas devem determinar as suas posições com as
outras forças políticas e movimentos de acordo com
critérios de classe objetivos. Lembremonos do esforço para
arrastar os comunistas, através do movimento
antiglobalização e dos chamados fóruns sociais, para um
movimento conjunto com a socialdemocracia, as organizações
sindicais amarelas, assim como com outras forças (tais como as
organizações não governamentais ONG), que estão ao
serviço do capital e das organizações imperialistas. Este
esforço não teve êxito; o KKE e os outros partidos
comunistas contribuíram para isso com a sua postura. Os partidos
comunistas devem ter uma postura clara contra as ONG, pois a maioria delas
está ligada a grandes interesses económicos e, em
simultâneo, são utilizadas pelo imperialismo nas suas
intervenções nos acontecimentos políticos, no derrube de
governos, no contexto das contradições burguesas e
intraimperialistas.
Contudo,
hoje em dia, este processo está em declínio; mas provocou
confusão, ao tentar menosprezar a luta e a luta de classes a
nível nacional e golpear o papel de vanguarda da classe operária.
O
trabalho ideológico, político e organizativo independente dos
partidos comunistas e a política de alianças que corresponda a um
poder político revolucionário é um princípio
fundamental; a sua violação leva à degenerescência
do caráter comunista ou à dissolução.
Firmeza nos princípios
marxistasleninistas
A pressão
políticoideológica da burguesia levou a pôr em causa o
caráter contemporâneo do marxismoleninismo, mesmo por parte de
partidos comunistas, com o argumento – como lemos recentemente no jornal
de um partido comunista árabe – de que o maexismoleninismo
está antiquado.
A
assimilação e a aplicação criativa da teoria
marxistaleninista não são, apenas, uma escolha de entre outras;
é esta escolha que determina o caráter revolucionário de
um partido.
Ao
longo dos anos, confirmouse que “não pode haver qualquer
ação revolucionária, qualquer movimento
revolucionário, sem uma teoria revolucionária”; o movimento
comunista requer uma bússola, um instrumento para estudar e analisar as
leis sociais e económicas, conhecimento necessário para a classe
operária entender e mudar a sociedade, sob a liderança da sua
vanguarda. Citamos as palavras de Lenine: “Nós baseamonos integralmente
na posição teórica marxista: o Marxismo foi o primeiro a
transformar o socialismo de uma utopia numa ciência, a encontrar uma base
sólida para esta ciência, e a indicar o caminho a seguir no futuro
para a desenvolver e elaborar em todas as suas componentes”5.
O
reconhecimento do caráter contemporâneo e realista
do socialismo
O movimento
comunista internacional, bem como todos os partidos comunistas, devem
participar no debate que procura encontrar respostas às questões
levantadas pelo processo contrarrevolucionário na URSS e nos outros
países socialistas. O relatório do CC do KKE ao XIII Congresso
destaca: “Hoje, não é possível a um partido
comunista atuar com eficácia, ter uma estratégia
revolucionária, cientificamente elaborada e dar respostas às
grandes questões, sem utilizar a experiência, positiva e negativa,
da revolução e construção socialistas”6.
Contudo,
há vários requisitos para a participação neste
debate:
. Em
primeiro lugar, a posição dos Partidos Comunistas perante a
construção socialista no século XX, o confronto com o
ataque difamatório da burguesia e das forças oportunistas que a
acompanham, a avaliação crítica dos erros e
omissões que levaram à contrarrevolução, mas
também a atitude perante a perspetiva socialista.
. A
defesa das realizações da grande revolução
socialista de Outubro, da primeira tentativa histórica da classe
operária para construir o seu próprio poder estatal e a sua
própria sociedade, abolir a exploração do homem pelo
homem, através da socialização dos meios de
produção, da planificação central, do controlo
operário e social. O reconhecimento de que o desenvolvimento
económico é para servir as necessidades humanas, assegurando o
direito ao trabalho para todos os que possam trabalhar, assim como um sistema universal
de saúde, de bemestar e de educação, de direitos na
segurança social, no desporto e na cultura. O reconhecimento da
contribuição do sistema socialista à luta
antiimperialista, pela paz e pela abolição do colonialismo.
. A
luta contra a falsificação da história, contra a
equiparação do socialismo ao fascismo, que pretende apagar da
memória histórica a titânica luta do PCUS, dos Bolcheviques
e do povo Soviético, bem como a sua vitória contra o invasor
fascista, que causou a morte de 20 milhões de pessoas, milhões de
feridos e danos incalculáveis. O bastião contra a “histeria
antiStáline” é uma luta em defesa do período em que
foram formadas as bases da construção socialista.
É
evidente que neste debate não há lugar para “aqueles que em
nome da 'renovação' abandonaram estes princípios antes da
contrarrevolução, mas também depois dela, e chegaram,
finalmente, à subestimação e, mesmo, à
rejeição da luta pelo socialismo”7. O estudo
crítico deve focarse no desenvolvimento e prevalência dos desvios
oportunistas dos partidos comunistas no governo e como estes desvios levaram
à transformação destes partidos em veículos da
contrarrevolução e da restauração capitalista.
A
debilidade na incorporação de conclusões sobre a
construção socialista no século XX e o percurso do
movimento comunista é evidente nos programas e na estratégia de
muitos partidos comunistas. Hoje, há muitos partidos comunistas que
não conseguiram adaptar a sua estratégia às
condições atuais, nem focarse na luta pelo socialismo. Continuam
a adotar posições estratégicas de anos anteriores,
posições sobre “etapas intermédias” entre o
socialismo e o capitalismo, posições sobre governos
“antimonopolistas”, de essência administrativa.
Esta
discussão é crucial; a atrás mencionada deficiência
ignora vários desenvolvimentos objetivos: o capitalismo desenvolveuse
mais, os monopólios fortaleceramse, as relações de
produção capitalistas expandiramse e reforçaramse, enquanto,
simultaneamente, a classe operária aumentou, mesmo nos países
relativamente menos desenvolvidos e, por outro lado, as condições
materiais para a transição para o socialismo estão agora
mais maduras do que antes. A integração no sistema imperialista e
nas organizações imperialistas agudiza as
contradições do capitalismo, bem como a sua
contradição fundamental e cria as condições para a
sua solução.
A
oposição às relações desiguais dentro do
sistema imperialista, à forte presença do capital multinacional
em vários estados deve adquirir um conteúdo antiimperialista e
anticapitalista, rejeitando posições que apoiam o fortalecimento
de diversos segmentos do capital nacional e o melhoramento da
posição do seu país no sistema imperialista. As
posições do KKE podem ser úteis para o movimento comunista
e para o desenvolvimento da discussão. Como é mencionado no
programa do partido, “o povo grego libertarseá das algemas e dos
efeitos da exploração
capitalista,
da opressão e dependência imperialistas, quando a classe
operária e os seus aliados realizarem a revolução socialista
e procederem à construção do socialismo e do
comunismo”8.
A
elaboração de uma tática para servir a estratégia
de um partido comunista requer o reconhecimento da linha de luta
antiimperialista e antimonopolista, assim como da via que conduz à mudança
da correlação de forças e, em certas
condições, à transição para o socialismo.
Muitos
partidos estão preocupados com a relação entre a luta de
classes a nível nacional e internacional. Claro que a
contrarrevolução, a mudança da correlação de
forças a favor das forças imperialistas, reforçaram o
impacto dos fatores internacionais. Contudo, isto não diminui a
importância das contradições e condições
internas, que têm o principal papel na luta de classes e no processo
revolucionário.
O
desenvolvimento assimétrico cria níveis diferentes de
amadurecimento das condições económicas e políticas
para a transição para o socialismo e realça a
posição leninista sobre o elo mais fraco.
Luta contra todas as
organizações imperialistas
A luta
antiimperialista consequente deve voltarse contra o imperialismo como sistema,
nomeadamente, contra o capitalismo na sua fase superior. Além disso,
deve voltarse contra as uniões e organizações
imperialistas como um todo. O fortalecimento desta luta constitui um dever do
movimento comunista. Em particular, os partidos comunistas na Europa devem
comprometerse com o desenvolvimento de um movimento que lute contra a UE.
O
movimento comunista em geral – e não só na Europa –
deve afrontar a lógica que olha a UE como um mal menor, como uma
organização que se opõe aos EUA e à NATO. Tais
posições desarmam o movimento de trabalhadores e popular e
prendemno a ilusões acerca do desenvolvimento da UE, supostamente a
favor dos povos, por meio da mudança da correlação de
forças na UE a favor das forças “antineoliberais”. Os
partidos comunistas que apoiam a UE, mesmo que tenham adotado esta
posição sob a pressão da intimidação, devem
pensar mais profundamente nesta questão e ter em conta que, devido
à crise económica, a agressão imperialista vai intensificarse
nos próximos tempos.
A UE
é uma aliança avançada de estados imperialistas. Emergiu
da necessidade dos monopólios europeus expandirem a sua atividade
comercial num mercado comum, para encontrarem novos espaços de
rentabilização, com condições que permitam o
fortalecimento da sua competitividade contra os monopólios americanos e
japoneses. As reestruturações que reduzem o preço da
força de trabalho e deterioram a situação da classe
operária e das camadas populares, a implementação da
Política Agrícola Comum (PAC), que se volta contra os camponeses
pobres, a institucionalização de medidas repressivas contra o
movimento operário, através de instituições mais
fortes para a manipulação e a assimilação do
movimento popular, não são escolhas de um bloco específico
dentro da UE; emanam dos verdadeiros objetivos da sua fundação.
Esta
estratégia é sustentada pelo Tratado de Maastricht e as suas
quatro liberdades. E é confirmada pela estratégia de Lisboa 2000
e sua revisão em 2005, assim como pelo recente Plano Europeu de
Recuperação Económica.
O
caráter imperialista da UE é também demonstrado pela
Política Externa Comum, pela Política Comum de Segurança e
Defesa, pelas guerras e intervenções juntamente com os EUA e a
NATO.
Ao
mesmo tempo, no contexto da crise económica, intensificamse as
contradições sobre a distribuição dos mercados, as
confusões nas alianças internacionais entre uma série de
países da UE (por exemplo, a Alemanha) e os EUA, embora sem
mudanças no caráter imperialista da EU.
Temos
de destruir as ilusões de uma série de partidos comunistas e de
movimentos de libertação nacional, antiocupação e
antiimperialistas, noutras regiões do planeta (Médio Oriente,
África, América Latina), sobre o papel da UE nos assuntos
internacionais. A UE não tem vontade nem capacidade para contribuir para
a solução de uma série de problemas internacionais –
por exemplo, a questão da Palestina e de Chipre – em favor dos
povos. É um cúmplice dos crimes israelitas, ao equiparar a
vítima ao agressor. Durante o ataque israelita à Faixa de Gaza,
no início de
A
intervenção de 21 partidos comunistas nas eleições
para o Parlamento Europeu é particularmente importante; prepara o
caminho para a intensificação da luta contra as forças que
apoiam a versão oportunista do “caminho único da UE”.
A origem da crise económica reside
nas relações de produção capitalistas
A crise
económica mundial e a sua análise são matéria de
luta políticoideológica entre o marxismoleninismo, por um lado, e
os pontos de vista burgueses e reformistas, por outro.
Desde
o primeiro momento, o KKE estudou a crise e considerou que era uma crise
capitalista de sobreprodução. A sua origem reside na
contradição fundamental do sistema, a contradição
entre o caráter social da produção e a
apropriação capitalista dos seus resultados.
Os
apoiantes do capitalismo, os socialdemocratas e os oportunistas tudo fizeram
para convencer as pessoas de que a gestão neoliberal, as escolhas de
cada partido burguês, a arbitrariedade dos bancos e dos executivos do
sistema financeiro é que foram os causadores da crise. Por esta
razão, discutem sobre o “capitalismo de casino”, o
“mercado livre extremo”, que violam as regras do “capitalismo
são”, etc. O seu objetivo é ocultar o facto de que as
crises são inevitáveis no sistema capitalista, que se caracteriza
pela anarquia na produção, o desenvolvimento desigual, a
intensificação da exploração.
Infelizmente,
constatamos que essas posições burguesas e oportunistas
influenciam as posições de diversos partidos comunistas que, de
facto, adotam os pontos de vista sobre a crise do sistema financeiro ou da
gestão neoliberal. Este facto reflete deficiências na
assimilação do marxismoleninismo e, sobretudo, na sua
utilização criativa para a análise dos fenómenos
contemporâneos. Desta forma, separase a ação do sistema
financeiro da economia capitalista, como um todo.
Claro
que esta discussão está ainda em curso e deveria aprofundarse
ainda mais, pois não se trata apenas de um assunto teórico; tem a
ver com a orientação e a organização da luta. Aquelas
posições debilitam a luta contra as causas da crise, contra as
relações de produção capitalistas. Ainda mais,
acorrentam as forças operárias e populares a uma linha que
promove o reforço da rentabilidade dos monopólios industriais
como um caminho para sair da crise a favor do povo.
A
limitação das causas à gestão neoliberal facilita
as manobras da burguesia, que apresentam as intervenções estatais
do estado burguês como uma política alternativa (por exemplo:
investimentos públicos, financiamento de segmentos do capital,
regulação das dívidas, etc.). Por isso, ignora o facto de
que a crise capitalista se manifesta independentemente da mistura que, em cada
momento, o sistema utiliza para a sua gestão.
O povo tem o direito de escolher
as formas de luta
O anticomunismo,
a pressão exercida pelas forças burguesas e oportunistas no
movimento comunista leva, em muitos casos, ao reposicionamento e ao retrocesso
perante as formas de luta, o que constitui um muito significativo problema.
Diversos
partidos comunistas falam de “formas de luta legais”, assumindo uma
posição negativa perante a luta e a resistência armadas,
mesmo no caso de ocupação estrangeira, como na Palestina,
Afeganistão e Iraque. Tais posições restringem a luta de
classes aos limites da legitimação burguesa e imperialista;
desarmam o movimento revolucionário e popular, que tem o direito de
resistir e reivindicar os seus direitos através de todas as formas de
luta, com o objetivo de derrotar o seu inimigo e depor os ditadores e
opressores.
Claro
que isto não tem nada a ver com terrorismo individual, com
ações “cegas” e mecanismos provocatórios
ligados aos serviços secretos e utilizados pelo estado de
monopólios e as organizações imperialistas contra o
movimento laboral.
Progresso na
coordenação das atividades dos partidos comunistas
A experiência
acumulada até agora é valiosa e ajuda os partidos comunistas e
operários a continuar e melhorar as iniciativas, as atividades e a
ação comum. Os Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e
Operários, iniciados em Atenas, em 1998, têm um papel muito
importante. Durante estes anos, consolidaram o seu caráter de
reuniões que têm o direito e a obrigação de estudar
os desenvolvimentos contemporâneos e intervir sem a
participação de formações de esquerda que
constituem corpos estruturados de oportunismo.
Além
disso, o número de partidos comunistas e operários que participam
no encontro aumentou, e melhorou a representação de todos os
continentes. Houve um aperfeiçoamento na preparação da discussão;
as reuniões incluem temas com mais substância e trataram problemas
importantes, que contribuem para o estudo e para a generalização
da experiência, com vista ao desenvolvimento da luta.
O
movimento ganhou confiança e atingiu um nível significativo de
debate políticoideológico, sobre diferentes abordagens e
análises, nos temas discutidos em cada momento.
Os
encontros regionais sobre os desenvolvimentos nos Balcãs, Médio
Oriente, América Latina e outras regiões também têm
um papel importante.
As reuniões
temáticas, que permitam um exame mais substancial de significativos
assuntos, como a educação, as reestruturações
reacionárias e as organizações imperialistas, são
também particularmente úteis.
Neste
processo progrediuse na ação comum contra as guerras, as
intervenções e as ameaças imperialistas; contra as guerras
lançadas pelos imperialistas americanos, europeus e a NATO contra a
Jugoslávia, o Afeganistão e o Iraque.
O
movimento comunista expressou a sua solidariedade com o povo da Palestina e condenou
os ataques israelitas, bem como os outros estados que apoiam Israel; expressou
a sua solidariedade com
o povo
cubano e com a revolução cubana; apoiou o povo cipriota e exigiu
a solução da questão de Chipre, de acordo com as
resoluções do Conselho de Segurança da ONU; condenou as
resoluções anticomunistas do Parlamento Europeu, da OSCE, etc.,
com dezenas de partidos comunistas a participarem nestas iniciativas, que devem
continuar e ligarse com as atividades a desenvolver em cada país.
Adquirimos
experiência, em primeiramão, na promoção de
objetivos comuns de luta e na organização de ações
conjuntas, por ocasião do Dia Mundial dos Trabalhadores, da
vitória antifascista dos povos etc.
Podemos
continuar neste caminho e fazer novos e qualitativos progressos, no que
respeita aos temas dos encontros, ao estudo de assuntos teóricos
contemporâneos, ao estudo da construção do socialismo no
século XX, ou às novas questões da luta de classes.
Podemos
melhorar a preparação das reuniões e das
declarações conjuntas, fortalecendo, o melhor que for
possível, o caráter comunista dos encontros e das suas
conclusões.
Estamos
obrigados a melhorar a ação conjunta, a ser mais consistentes e
preocupados com a concretização das decisões adotadas nos
encontros internacionais, regionais e temáticos. Devemos informar,
esclarecer e mobilizar a classe operária, os estratos populares e a
juventude nos países em que os partidos comunistas atuam. Este é
um objetivo crucial que tem de ser alcançado e devemos ser
particularmente persistentes na sua realização; potencia grandes
dinâmicas e ajudará ao desenvolvimento da luta ideológica,
política e de massas, na base da experiência internacionalista.
Hoje,
os partidos comunistas podem contribuir mais eficazmente para o desenvolvimento
e o reforço das organizações internacionais
antiimperialistas, nomeadamente, a Federação Sindical Mundial
(FSM), o Conselho Mundial da Paz (CMP), a Federação Internacional
Democrática das Mulheres (FIDM), a Federação Internacional
da Juventude Democrática (FIJD).
Isto
não é apenas um objetivo entre outros. É um objetivo
especial; e assume prioridade, na medida em que impulsionará o movimento
com orientação de classe e o movimento antiimperialista em geral,
com a participação de forças que acreditam no desenvolvimento
da luta de classes, na luta contra as uniões e
organizações imperialistas, contra a colaboração de
classes e o pacifismo.
A
FSM fez um progresso significativo depois do seu Congresso em
É
necessário intensificar os nossos esforços, ao nível
nacional e internacional, para fortalecer a luta ideológica e
política contra estas forças; para desenvolver e fortalecer os
sindicatos com orientação de classe; para fundar novos sindicatos
em setores e grandes centros de trabalho; para insistir na
coordenação da luta.
As
iniciativas internacionais da PAME, que é o pólo de classe no
movimento sindical, são também de grande importância:
fortalecem o movimento de solidariedade operária e apoiam a atividade da
FSM e o reagrupamento da orientação de classe do movimento
sindical e operário internacional.
O
trabalho na classe operária e nos sindicatos é uma prioridade
para os partidos comunistas. A eficácia do nosso trabalho no movimento
operário requer a combinação da luta ideológica,
política e de massas, assim como a elaboração e a
apresentação de reivindicações que correspondam
às necessidades atuais da classe operária, reforcem a luta contra
o capital e os seus representantes políticos e sindicais, e
amadureça as condições para uma confrontação
que trará mudanças radicais ao nível do poder do estado e
das relações de produção.
A
unidade da classe operária pode ser forjada através do
desenvolvimento da luta de classes. A colaboração de classes
desarma os sindicatos, muda o seu caráter e ajuda à
submissão da classe operária aos objetivos e à
estratégia do capital.
A
ação conjunta de federações, centros de trabalho,
sindicatos e comités de luta, que reclamem uma plataforma coesa de
reivindicações, que sirva as necessidades da classe operária,
proporciona uma valiosa experiência.
Em
muitos países, o movimento sindical não fez o necessário
para promover uma plataforma de reivindicações contra a
reestruturação capitalista, a competitividade e a rendibilidade
do capital; uma plataforma de reivindicações que incluísse
objetivos como um emprego pleno e estável, a redução do
tempo de trabalho, a abolição das formas flexíveis de
emprego, a proibição dos despedimentos, a abolição
de impostos para o consumo público de bens e combustíveis,
sistemas de saúde, bemestar e educação exclusivamente
públicos e gratuitos, a abolição da atividade comercial
nestes campos, etc. Por outras palavras, o movimento comunista internacional
tem de se aperceber de uma questão crucial, que também foi
esclarecida pelo XVIII Congresso do KKE: “Hoje, não basta ao
movimento estabelecer alguns objetivos positivos parciais. O que determina a
eficácia do movimento, o seu papel numa perspetiva positiva é a
moldura ideológica e política que apoia estes objetivos de luta. A
"unidade perante o problema" ou a “luta contra os
problemas”em geral não são suficientes; o que é
importante é a moldura política das reivindicações,
as posições ideológicas e o objetivo da luta. Os
verdadeiros desafios da luta exigem que o movimento operário adquira uma
orientação antimonopolista e antiimperialista, para lutar contra
as ideias e noções artificiais burguesas, contra o reformismo e o
oportunismo, na base da experiência da luta de classes e de massas. A
luta ideológica, política e económica segue um caminho
único; não pode dividirse em unidades separadas.
Os
empregados e os trabalhadores em geral devem ser orientados para um caminho
alternativo de desenvolvimento, oposto aos monopólios e às
políticas imperialistas, na base da sua própria experiência
e da nossa intensiva e dirigida atividade políticoideológica.
Temos
de explicar os benefícios que o poder e a economia populares
trarão para a grande maioria do povo, que pode expressar os interesses
de todos os que concordam com a necessidade de uma luta contra o poder dos
monopólios, embora possam ter diferentes pontos de vista sobre o
socialismo.
O
contraataque do movimento popular, em conjunto com a vanguarda do movimento
operário, exige a luta efetiva contra o reformismo e o oportunismo, a
confrontação com os planos da classe dominante para utilizar as
chamadas forças anarquistasautonomistas e antiautoritárias,
qualquer grupo ou força política que se apresente como
“revolucionária” e “anticapitalista” combinada
com a histeria anticomunista, com slogans e argumentos extraídos do
arsenal da mais extremista campanha antiKKE; assim como contra
conceções racistas e xenófobas”9.
O KKE,
de acordo com as diretrizes do XVIII Congresso, continua os esforços
para o reforço da cooperação com os partidos comunistas e
operários, contra a presença das forças da NATO nos
Balcãs e contra a utilização de questões sobre
minorias, existentes ou não existentes. Contribuirá para um
melhor estudo da situação do povo trabalhador e da juventude, dos
desenvolvimentos e das contradições internas na EU e da
rivalidade entre os EUA e a Rússia; apresentará as
deficiências do movimento comunista e operário e a falta de
coordenação das lutas a nível europeu.
O KKE
insistirá na ação conjunta nos Balcãs, na Europa,
no Médio Oriente e contribuirá: para o desenvolvimento de
relações mais estreitas com os partidos comunistas e os
movimentos antiimperialistas na África; para o reforço de
iniciativas conjuntas dos partidos comunistas e operários na defesa dos
direitos dos trabalhadores estrangeiros e da sua organização no
movimento sindical de classe; para a estabilização dos encontros
regulares de partidos comunistas dos países do MédioOriente,
tendo em vista o desenvolvimento da solidariedade; para o início da
discussão sobre o fortalecimento do movimento operário na
região, a resistência antiimperialista à
ocupação e a rejeição dos planos para o grande
Médio Oriente e, em geral, dos planos dos EUA, UE e NATO.
De
igual modo, contribuirá para o desenvolvimento da
cooperação com os partidos comunistas e operários na
América Latina, para iniciativas de solidariedade com os povos da
região, que sofrem os ataques dos EUA, bem como os esforços da UE
para intervir nos acontecimentos em favor dos seus interesses.
O KKE
centrarseá na cooperação na cooperação e
solidariedade com os partidos comunistas da região que estão
determinados a manter o seu papel independente e a contribuir para o
aprofundamento da luta antiimperialista, recusando diluirse em coligações.
Como
conclusão, o KKE continuará e intensificará os seus
esforços para reagrupar o movimento comunista, para a sua
presença e ação distintas, para a sua
contribuição para a luta revolucionária antimonopolista e
antiimperialista.
Para a
formação do pólo comunista
Os comunistas
estudam cada passo que dão; desenvolvem ações com
precaução, examinando as condições objetivas e as
possibilidades em cada momento, procurando a ligação que
impulsionará a luta, ao nível nacional e internacional. Por isso,
desde o seu XVI Congresso, em 2000, o KKE comprometeuse com a melhor
coordenação possível e a mais eficaz ação
comum do movimento comunista. A resolução do congresso
realça a necessidade de formar um pólo global do movimento
comunista mais distintivo, uma distinta forma de coordenação e
cooperação a nível internacional e regional melhor do que
a que foi estabelecida até agora, através das iniciativas dos
partidos comunistas e operários.
Outros
partidos comunistas e operários contribuíram para o debate sobre
esta posição, compartilhando a sua experiência numa troca
de pontos de vista. Isto reforçou o debate no sentido de fazer um
progresso mais substancial e rápido na presença e
ação distinta dos partidos comunistas. Esta
orientação foi consagrada na resolução do XVII
Congresso do KKE, em
“O
nosso Partido intensificará as suas atividades internacionais para que
se venha a formar uma mais distinta forma de cooperação com os
partidos comunistas e operários, o pólo comunista.
Esta
distintiva presença dos partidos criará melhores
condições para enfrentar as dificuldades que existem. E
também facilitará o alargamento do conjunto das forças
antiimperialistas.
A
iniciativa para a criação deste pólo pode ser desencadeada
por partidos comunistas que estão próximos nos seus pontos de
vista políticos e ideológicos, que defendem o marxismoleninismo e
a contribuição do socialismo que conhecemos, bem como a
necessidade da luta pelo socialismo. […]
O
distinto pólo comunista não anula, em nenhum caso, a soberania de
cada partido e a sua responsabilidade em relação à classe
operária e ao movimento nos seus respetivos países. Assumirá
a forma de coordenação da ação comum, na base da
paridade”10.
O KKE
informou os partidos comunistas sobre esta posição. Discutiu em
encontros bilaterais com muitos dos partidos que expressaram o seu interesse
nestas posições. Estas discussões mostraram que, apesar
das dificuldades, há uma base comum – diversos
prérequisitos que podem ser mais adiante desenvolvidos.
Neste
processo, depois de um grande esforço através da troca de pontos de
vista e reflexões sobre estas posições, houve uma
convergência de vários partidos comunistas sobre uma
questão, de facto, essencial:
O
esforço para a formação do pólo deve continuar; os
partidos comunistas devem assumir a responsabilidade de contribuírem,
coletivamente, para o estudo de importantes questões teóricas e
para a elaboração e a generalização da
experiência do movimento revolucionário antiimperialista. Este
processo daria lugar à publicação de uma revista
teórica na qual os partidos comunistas se expressassem através
das sua revistas teóricas ou outras publicações.
A
decisão da publicação da revista, intitulada
“Revista Comunista Internacional”, baseiase no entendimento comum
sobre a defesa dos princípios do marxismoleninismo, do internacionalismo
proletário, da necessidade da construção socialista, da
ditadura do proletariado e da construção da sociedade socialista.
Esta
revista não quer ser um mero registo de teses e não será
uma revista para troca de pontos de vista. Além do mais, este objetivo
é conseguido por outras publicações. Será uma
revista que desenvolve o diálogo e a reflexão, numa base
ideológicopolítica específica. É um passo:
. Para
a defesa e a validação científica da necessidade objetiva
da existência do partido comunista, o partido de novo tipo, os
princípios leninistas para a sua fundação e funcionamento
contra as opiniões que promovem a diluição em
formações oportunistas mais amplas, em nome da “unidade da
esquerda”;
. Para
realçar o papel principal de vanguarda da classe operária na luta
de classes para o derrube do capitalismo, o progresso social e o socialismo,
contra a prática oportunista e acientífica que substitui a classe
operária por uma mistura de forças pequenoburguesas apresentadas
como o novo sujeito revolucionário;
. Para
expor a barbaridade imperialista e contribuir para o desenvolvimento da luta
contra as uniões imperialistas, como a NATO, a UE, o FMI, a OSCE, etc.;
. Para
defender resolutamente a história do movimento comunista e o futuro
estudo crítico da experiência histórica, que
reforçará a luta dos partidos comunistas contra o constante e
calunioso ataque das forças capitalistas – os revisionistas da
história.
Poderíamos
dizer que se aplanou o caminho, mas estamos ainda no início. Há
muitas dificuldades, mas o fundamental é estarmos cientes da
importância deste esforço e dos desafios que cria para consolidar
os progressos feitos.
Os
desejos não são suficientes. Cada partido que aceitou participar
na Revista Comunista Internacional, ou o faça no futuro, deve ter uma
postura responsável.
Em
certas condições, a Revista Comunista Internacional, que se
publicará no final de 2009, pode tornarse um instrumento importante para
o reforço do processo de formação do pólo
comunista, para o reagrupamento ideológico e organizativo do movimento
comunista, para uma estratégia comunista unificada.
Este
processo não é restrito à revista. Há outras
ideias, propostas e reflexões que podem ser coletivamente examinadas e
contribuir para este percurso.
O KKE
assume as suas responsabilidades e esgotará todas as possibilidades para
que este esforço seja bem sucedido.
O
nosso partido toma em consideração as hesitações
expressas por diversos partidos em reuniões bilaterais, as suas
preocupações sobre se esta tentativa – isto é, a
revista e o pólo comunista – contribuirá para a unidade do
movimento comunista.
O
XVIII Congresso do KKE aborda esta questão responsavelmente e sublinha:
“Não
compartilhamos dos receios de que tal esforço coletivo pudesse retirar a
responsabilidade de cada Partido Comunista a nível nacional, nem que
tornasse mais difícil o esforço geral para coordenar os partidos
comunistas e operários com diferentes entendimentos no que respeita a
vários objetivos antiimperialistas. O esforço para uma
estratégia revolucionária unificada contra a estratégia
unificada do imperialismo pode reforçar e clarificar ainda melhor os
deveres da cada partido Comunista no seu país e as suas
responsabilidades perante a classe operária e os trabalhadores em geral.
Na nossa opinião, uma cooperação a um nível mais
elevado seria baseada na igualdade dos partidos, no respeito pela sua
independência e pelos particulares pontos de vista que possam ter. Todos
os PC têm a responsabilidade e o direito de estudar os problemas
teóricos do nosso movimento, de formular uma estratégia
revolucionária, de retirar lições da frente de luta com as
conceções burguesas, o reformismo e o oportunismo a um
nível internacional, de preparar
o
partido e, em geral, as forças de classe, para os altos e baixos da luta
de classes, para os êxitos e também para as derrotas, de encontrar
explicações científicas, de tirar partido da
experiência, para preparar um novo avanço e conseguir ganhos para
a vitória final. Ao mesmo tempo, na nossa opinião, também
todos os PC têm a responsabilidade e o direito de informar e tornar
aqueles estudos comuns aos partidos comunistas e operários
irmãos, de estudar os seus pensamentos e opiniões, a fim de, em
última instância e através do trabalho coletivo, conseguir
que todos os contributos vão na mesma direção, na luta
para mudar a correlação de forças e derrotar o
capitalismo”11.
A
experiência acumulada durante estes anos confirma as
posições do KKE, que demonstrou, na prática, que os
esforços para a ação comum em torno de objetivos antiimperialistas
e antimonopolistas com os partidos comunistas com diferenças
ideológicas continuam, enquanto há uma necessidade de
intensificar a luta contra as posições que se opõem ao
caráter revolucionário do partido comunista e contra a
falsificação ou o revisionismo do marxismoleninismo.
1
Artigo publicado no n.º 6 da revista teórica do KKE, Revista
Comunista”, em 2009. 2 Resolução do XVIII
Congresso do KKE: “Avaliações e conclusões da
construção socialista durante o século XX, com enfoque na
URSS. A perceção do socialismo pelo KKE”,
publicação do CC do KKE, pp. 72-73. 3 Resolução
do XVIII Congresso do KKE: “Avaliações e conclusões
da construção socialista durante o século XX, com enfoque
na
URSS. A perceção do socialismo pelo KKE”,
publicação do CC do KKE, p. 75. 4 Relatório do
CC do KKE ao XVIII Congresso, sobre o primeiro tema – Revista Comunista
2/2009 p. 51 5 V.I. Lenine, “O nosso Programa”, Obras
Escolhidas, ed. Synchroni Epochi, vol. 4, pp. 186-187 6 Relatório
do CC do KKE no XVIII Congresso, no primeiro tema, Revista Comunista, n.2/2009 7
Relatório do CC do KKE no XVIII Congresso, no primeiro tema,
Revista Comunista n.2/2009 8 Programa do KKE, edição
especial do CC do KKE, p. 250 9 Resolução
Política do XVIII Congresso do KKE, Revista Comunista n.3/2009, p. 135 10
XVII Congresso, Documentos, publicação do CC do KKE, pp.
108-109 11 Relatório do CC do KKE ao XVIII Congresso, no
primeiro tema, Revista Comunista, n.2/2009, pp. 51-52
e-mail:cpg@int.kke.gr